segunda-feira, julho 13, 2009

Momento nostalgia

Ressuscitei o blog, a Josephine e tudo o que isso representa.

Fazendo uma alter-egosearch no google, encontrei o post do Rafael Parente (que não, não é meu parente) no blog Perturbados (que também está congelado desde 2007 ), indicando o Diário de Um Lunático, na época em que o Diário de um Lunático ainda era um blog vivo. Transcrevo aqui porque fiquei deveras emocionada em recordar esse momento tão nobre de nossa existência bloguística:

"
Quarta-feira, Abril 14, 2004


Depois de muito tempo, tenho o prazer de indicar mais um blog. Dessa vez é o
Diário de um lunático

Escrito por pessoas que se denominam JOSEPHINE BUTTERFLY e EDMUND BONAPARTE, o blog quase não tem figuras. Portanto (e, logicamente) tem textos. Muito conteúdo mesmo. Os preguiçosos nem precisam se dar o trabalho de passar lá. E por que foram escolhidos? Isso é facilmente perceptível. Com uma linguagem perfeita e às vezes até bem rebuscada, eles descrevem fatos e observações que só pessoas realmente PERTURBADAS têm o prazer de encarar. Alguns exemplos? Respondam:

1. Já aconteceu de quatro acordes de uma composição de Beethoven não saírem da sua cabeça?
2. Você já decidiu se auto-aplicar um choque para diminuir a sua corrente de adrenalina?
3. Já se questionou sobre o som do silêncio?
4. Já fez parte de diálogos como:


-Você quer comer pizza?
-Quero.
-Quer comer pizza?
-Não, não quero.
-Não quer?
-Quero.
-Quer comer pizza ou não quer comer pizza?
-Quero, quero comer pizza.
-Tem certeza de que quer comer pizza?
-Tenho.
-Tem certeza?
-Não.
-Não tem?
-Tenho sim.
-Tem?
-Não, não tenho.
-Não tem certeza?
-Tenho certeza.
-Tem certeza ou não tem certeza?
-Você quer comer pizza?


Suficiente? Então vamos agora dar uma averiguada no último post:

Não sei quem grudou Beethoven em meu córtex, nem mesmo sabia que Beethoven era assim tão colável. Sabia que coisas como a Kelly Key, É o Tchan, Bonde do Tigrão e outras anomalias fazem músicas do tipo "adesivo", algo que chamarei de "Glue-Music", mas jamais imaginei tal coisa do sempre tão erudito Bee (Ok, desculpe a initmidade apicutural, posso Chamá-lo de Thoven ou, quem sabe, de Lud).

Se amarraram? Não? Então indica outro e não reclama, né?


COLUNISTA EXCLUSIVO: RAFA PARENTE"



PS: Acabo de encontrar este blog: http://rafaelparente.blogspot.com/Pela foto, parece ser o mesmo rapaz, só um pouco mais crescido e mais sorridente. Será? Pelos textos, parece estar mais sério (no bom sentido), é doutorando em educação internacional e desenvolvimento, pela NYU . Muito medo do rapaz. Agora que ele é tão educado a ponto de estar se preparando para ser doutor em educação internacional (NUNCA mais alguém poderá chamá-lo de mal educado, ou "sem-educação"...ele será o "Doutor Educado" :-)), é compreensível que mantenha-se afastado da alcunha de "perturbado". Até porque, cá entre nós, nenhum deles jamais foi realmente perturbado. Os verdadeiros perturbados e malucos acreditam que são absolutamente normais.

Confesso que fiquei bastante orgulhosa do Rafael ao ver seu novo blog e o quanto ele evoluiu como pessoa. Eu, como todo bom dinossauro, permaneço fossilizada no tempo, com poucas alterações visíveis em minha humilde existência. Não estou fazendo doutorado em nada, embora essa seja, sim, minha intenção a longo prazo. Doutorar-me-hei (editor de texto do blogspot só aceita mesóclise se for do jeito dele. Ok, melhor não contrariar) em alguma coisa "doutorável". Assim que tiver condições de.

No entanto, minha profunda capacidade empática faz com que eu me sinta incomensuravelmente feliz ao ver o crescimento pessoal, profissional e o doutoramento de tão amável criatura, da qual mantenho boas lembranças. Isso me traz satisfação tão grande quanto se o doutorado estivesse sendo feito por mim mesma (porém sem todo o trabalho e desgaste intelectual, emocional e físico que esse tipo de especialização requer), e me supre a necessidade momentânea de fazer, efetivamente, um doutorado.

Isso é deveras cômodo, assumo, porém, fazer o quê? Meu cérebro tem esse tipo de escape e eu não reclamo. Foi assim que matei minha vontade de ser mãe ao acompanhar o nascimento e os primeiros anos de vida de meus quatro sobrinhos. Feliz com a felicidade dos outros, tendo sido abençoada por Deus com a total incapacidade de invejar o sucesso alheio, meus maiores esforços se concentram justamente em fazer algo de realmente prático mesmo não sentindo a menor necessidade disso para ser feliz ou ter satisfação.

Minha maior insatisfação está justamente em me sentir satisfeita com a satisfação alheia. a ponto de deixar insatisfeitas as pessoas que se sentem satisfeitas ao me verem satisfeitas pois não acreditam que eu possa, pura e simplesmente, me satisfazer com a satisfação alheia,. (ok, ficou sobrando uma vírgula... estranhamente não consigo apagá-la. Ela foge de mim. Não funcionou nem com o backspace, nem com o delete. Preferi deixá-la quieta do que alterar alguma configuração do universo na tentativa obsessiva de deletá-la a qualquer custo). Algumas pessoas mais próximas querem me ver tendo sucesso em alguma das inúmeras áreas para as quais tenho vocação, e para vê-las satisfeitas e, consequentemente, sentir-me satisfeita com sua satisfação, quero alcançar bons resultados em alguma dessas áreas...ou em todas.

E é em busca da satisfação de quem gosta de mim a ponto de se sentir satisfeito com meu sucesso ou mesmo com a simples existência de algo feito por minhas mãos, que retomo a confecção deste blog e a liberdade que apenas a Josephine ButterFly-Bonaparte (eu SEMPRE quis um hífen! Depois dos Jolie-Pitt o sonho da minha vida era ter um hífen. No entanto, não possuo sobrenomes "hifenizáveis". E sim, eu e Edmund nos casamos) consegue me proporcionar.

sábado, abril 05, 2008

Aqui, comendo sequilhos da Seven Boys (não, ninguém me pagou nada por essa propaganda), lembrei de ter algum blog em algum lugar. Há um ano, exatamente, não escrevo nada neste espaço e é impossível evitar a pergunta que reverbera em minha mente: "por quê?" Não sei. A resposta é assim simples.

O tempo é uma noção estranha, para mim é mais estranha ainda. Não é uma linha contínua, mas um campo extenso em cuja superfície é possível flutuar em diversas direções. Eu flutuo em saltos estranhos, me perco, às vezes. Não parece que passou um ano, nem sei o que parece.

Obviamente, tenho consciência de que para a maioria das pessoas o tempo é aquela linha contínua unidirecional, sobre a qual elas caminham, caminham, caminham. Tenho bem clara em minha mente a certeza de que, por isso, ninguém mais há que visite regularmente este espaço. O ano passou para todos, muito mais do que para mim, e ninguém se lembra de Josephine.

Mesmo consciente de meu ocaso, insisto em escrever, pois minha vontade de me expressar não se incomoda com o fato de não haver interlocutor disponível.

Os sequilhos do pacote estão acabando. Pouquíssimos ainda estão inteiros, a maioria, esfacelada, pouco conserva da rosquinha que já foi um dia. Não, isso não é poético, nem tem um significado oculto. É um comentário banal sobre acontecimentos banais. Todos os dias milhões de pacotes de bolachinhas acabam, e isso é corriqueiro, porém imensamente triste e é um assunto sobre o qual não vale a pena discorrer, pois não quero fazer um post depressivo.

Lavei minha vida e a pendurei no varal, para secar. Ficou esquecida lá, durante uma semana de inverno, e tive de lavar de novo, para tirar o cheiro de mofo. Estendi no varal novamente em um dia de sol, em um ano de sol entre nuvens. Agora resolvi lavar de novo e colocar de molho em amaciante. Tudo pronto, foi novamente para o varal. Parece seca, não sei, mas está com um cheiro muito bom, dá vontade de abraçar. Visto minha vida agora depois de tanto tempo, já meio sem jeito, vendo o quanto emagreci, pensando em um ou outro ajuste que precisarei fazer para tirar a sensação de estar vestindo um saco de batatas.

Ainda combina comigo, mas precisa daqueles ajustes. Um sapato novo, um brinco diferente. Descobrir de novo com o que ela combina. Finalmente me sinto confortável e, sentada à máquina de costura, planejo as alterações necessárias para uma nova estréia. Sem pressa.

Ponho o tempo na gaveta para que ele não me incomode. Desliguei a televisão, desliguei o mundo exterior. Por enquanto meu interesse é apenas na reforma. Nas horas vagas, escreverei novamente, para desligar um pouco mais enquanto os consertos são feitos.

Fechei o pacote dos sequilhos antes que eles acabassem. Disfarço e finjo que eles ainda têm tempo. É uma quantidade ínfima, mas é melhor esperar para comê-los quando eu realmente tiver vontade, não pela simples obrigação de terminar o pacote. Sem pressa.

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PS: Agora é que me dei conta de que não escrevo aqui há quase DOIS anos. Eis a prova de que o tempo, para mim, é diferente. Mas explico: cheguei a escrever um post aqui há um ano, mas não concluí e ele está até hoje nos rascunhos, incompleto. Fechado, como o pacote de sequilhos, na esperança de que dure um pouco mais.

quinta-feira, maio 04, 2006

Às três horas da manhã

- Você quer um ovo?
- Hein?
- Quer um ovo?
- Você há de convir que essa é uma pergunta um tanto quanto estranha.
- Hum... (reformulando) Você quer um ovo cozido?
- A pergunta continua estranha, embora um pouco mais especificada.
- Você quer comer um ovo cozido?
- Continua sendo estranha, mesmo mais detalhada. E vai continuar a ser estranha enquanto o "ovo" estiver incluído.
- Hã... Você está com fome?
- Um pouco.
- Quer comer alguma coisa?
- O quê?
- Bem...pensei em alguma coisa salgada. Nós temos carne, que é uma coisa meio esquisita de se comer às três da manhã, e ovos de galinha.
- Por que é que você tem de me lembrar que os ovos vêm da galinha??
- Ah, desculpe! Temos...temos ovos. Ovos, gerados espontaneamente. Brotaram, dentro da caixinha de plástico. Surgiram, assim, do nada.
- Melhorou.
- Quer? Cozidos? Ovos, que apareceram na caixinha?

quinta-feira, março 23, 2006

Pequenas escolhas, grandes catástrofes

Conheci um rapaz, certa vez, que me disse que detestava ser obrigado a tomar pequenas decisões. Coisas como "o que você quer beber?" ou "onde vamos nos sentar?" somente gastam preciosos minutos e sinapses, que poderiam muito bem ter melhor utilidade. Concordo.

Porém, prefiro não tomar decisão alguma, nem pequena, nem grande. Sim, eu sei que "a vida é feita de escolhas, não escolher também é uma escolha" e patati, patatá, mas decidir, definitivamente, não é comigo.

As opções são sempre inúmeras e cada uma delas me levaria a um lugar diferente. O problema é que eu gostaria de conhecer cada um desses lugares e viajar a vida inteira entre diversas realidades paralelas, imaginando o que poderia ter sido e nunca foi, sem nem ao menos saber o que realmente foi e o que não foi, já que realidades paralelas são paralelas, estão todas no mesmo ponto, como saber qual realidade é a verdadeira?

Como só nos é permitido fazer uma escolha de cada vez, correndo o risco de fazer a escolha errada, ver uma luzinha vermelha acender e ouvir o "péééééééé" da maldita campainha nos avisando da péssima escolha sem que possamos fazer nada a respeito, acabo gastando mais tempo a pensar nos prós e contras do que realmente fazendo algo para materializar tanto os prós quanto os contras de uma das opções.

Assim, me pego paralisada diante de um simples "O que vai querer beber?" Tentando imaginar as terríveis ou maravilhosas consequências de escolher cada um dos itens da seção "bebidas" do cardápio. Prefiro poupar minhas energias e neurônios com um simples, prático e muito eficiente "Escolhe para mim".

Sim, eu sei que é imbecil, pois delego a outra pessoa a árdua tarefa da decisão, tentando tirar de meus ombros a responsabilidade pela escolha e, consequentemente, por todas as consequências decorrentes dela. Imbecil, porque geralmente a pessoa não tem a menor noção do impacto que sua escolha terá sobre minha vida e todo o universo (afinal de contas, estamos todos conectados) e, assim, delego tão importante momento a alguém que dará uma resposta irrefletida e, consequentemente, irresponsável, a tão importante pergunta- seja ela qual for.

Talvez seja medo, talvez seja fuga, o importante é que o sentimento que me move a tão absurda atitude tira de minhas mãos todo o controle sobre minha vida e meu futuro e só agora posso ver isso. Porque assim como muito dinheiro vai embora nas pequenas coisas, sem que percebamos, grandes escolhas dissipam-se por pequenas decisões, ínfimas, insignificantes, às quais não damos o menor valor. E perdemos, enfim, o direito de guiar nossa própria kombi do destino, ao delegar pequenos pedaços dela a quem não sabe dirigir.

Depois de ter essa inominável revelação do que raios estou fazendo com minha existência, preciso, urgentemente, rever meus conceitos.


PS: Por favor, visitem Edmund no Diário, ele anda um pouco carente e bastante amedrontado com a proximidade da Páscoa. Ainda mais agora, que descobriu que seu trauma de infância tem razão de ser. Basta dar uma olhada nas fotos do post do dia 2 de março, .

quarta-feira, março 22, 2006

Nova Residência

Finalmente concluí a transferência de arquivos do Diário de um Lunático para cá. Quer dizer, meus textos que estavam no Diário foram devidamente deletados de lá, mas consultei os arquivos e vi que eles ainda estavam ali. Tentei deletá-los novamente, mas não constam no sistema, isto é, ainda existem alguns posts-fantasmas no Diário de um Lunático, assinados por Josephine ButterFly. Espero que, com o tempo, eles encontrem paz e possam, enfim, descansar seus espíritos em um lugar de muita luz. E que tenham dinheiro para pagar a conta de energia.

Minha única dúvida de ordem configurativa é se trago também os textos do Manteiga Voadora ou deixo os pobres coitados em paz, congelados, lá em meu abandonado ex-blog. Conto com a colaboração de eventuais leitores para resolver essa questão. De vez em quando gosto de fingir que somos uma democracia.

sábado, dezembro 17, 2005

Donde estará mi vida?


Não, eu não sei onde estou. O certo, porém, é que não estou aqui. Tampouco estou ali, embora ainda esteja lá, mesmo que de forma bastante rara. Penso em apagar meus rastros deste blog, ou melhor, transferí-los ao Manteiga Voadora, que é onde disse que estaria, mesmo não estando. Falei sobre isso com Edmund, mas ele não disse nem que sim, nem que não, deixando sobre minhas costas o peso da difícil decisão.

Detesto decidir coisas. Acho que a vida seria mais fácil se não dependesse de nossas escolhas. E como não escolher também é uma escolha, ficamos, então, em um mato sem cachorro. Eu tenho gato, mas, embora quem não tenha cão possa, tranquilamente, caçar com gato, sou contra caçadas, pescarias e outras coisas que machuquem os animais.

Eu invadi este espaço. O problema é que eu e Edmund não cabemos no mesmo lugar, acabamos confundindo todo mundo e ninguém fica para ouvir a história. E eu quero que ouçam a história. Sem contar que este é o único lugar que Edmund tem para fazer suas elocubrações. Eu e meu eterno sentimento de culpa e inadequação.

Mas como ele não escreve há dois meses, pode ser comparado a alguém que deixa sua casa vazia durante semanas e semanas...corre o risco da invasão, corre o risco de alguns malucos pegarem suas malas, suas cuias e outros apetrechos para chimarrão e instalarem-se, sem cerimônia, na sala de jantar, com música alta e batatinhas fritas espalhadas pelo chão. Quando voltar, não reclame.

Mas eu sou boazinha. Só apareci aqui para dar sinal de vida e perguntar se é uma boa idéia eu transferir todos os meus textos para o Manteiga Voadora. Por favor, não deixem sobre meus magrelos ombros o peso dessa terrível decisão. Ou, quem sabe, eu continue aqui mesmo. Uma adorável sombra do lunático que habita esses posts. E não, não sou uma terceira personalidade dele. Embora, devo confessar, eu não esteja bem certa disso.

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Post dedicado aos milhares e milhares de leitores que perguntaram, incansavelmente: "Onde está Josephine?" Sem obter resposta alguma do alucinado ser que neste blog escreve e me ignora veementemente. Não liguem, ele é assim mesmo, certamente acredita que já respondeu a cada um de vocês.

Queria eu saber por onde andam vc dois! faz falta demais ler as suas pessoas criativas =/ bjocas

Liv | Homepage | 09-01-2006 14:08:06

Querido JP, não importa onde escreva, o que importa é que escreva. Não suma. E feliz 2006! Para vocês dois, o Ed não dá moral pra ninguem... Devo dizer. mas, feliz 2006. ehehhehe

J. Alencar | Email | Homepage | 08-01-2006 12:49:23

Olá, saudações de um novo ano que inicia-se. Quer dizer, eu não sou o ano saudando ninguém. É, acho que inicia-se uma nova crise de identidade. Bem, acho que você, Josephine, pediu opinião dos seus leitores e de Edmund, apesar dele não escrever mais, sobre esse blog. Creio que deveria passar todos seus textos para Manteiga Voadora, apesar de ser um pouco difícil essa tarefa. Na verdade, seria duplamente difícil transportar textos amanteigados e voadores, mas caso consiga transportá-los para algum lugar, não os deixe lá, sozinhos. Imagino também que seja mais interessante ocupar dois lugares, ao mesmo tempo, no espaço; mesmo que o espaço seja virtual. Que 2006 seja um ano repleto....de dias! hahaa Abraços. =) PS: E você ainda não está no meu msn, hein?!

GURIA | 01-01-2006 05:11:11

olá Josephine..Adorei revê-la Espero que esteja tudo bem com você. É a hora do Natal... A estrela é o teu presente! Mesmo que ela cintile apenas um segundo, contigo hás de levá-la indefinidamente. Um ótimo natal Beijos

ana | Email | Homepage | 23-12-2005 16:29:31

primeirão!

Rômulo | 21-12-2005 11:31:02

quarta-feira, outubro 20, 2004

Outra Cara

Cansei da minha cara. Sabe quando a gente cansa da própria cara? Assim, cansando mesmo? É sempre a mesma cara no espelho, em todos os espelhos, de todos os lugares pelos quais passo.

E não, não adianta mudar a cor do cabelo. Já fiz isso várias vezes. E não foi do cabelo que cansei, mas da cara. Se bem que também cansei do cabelo, mas esse é outro problema.

Não, plástica não adianta. Acabaria com saudade da antiga cara, ou cansaria da nova e faria outra cirurgia, depois mais outra, e outra, e outra, até virar a versão feminina do Michael Jackson. Coisa que, como diria Edmund, não me traria encanto.

O que a gente faz quando cansa da própria cara? Alguém me diria para não olhar mais para o espelho, mas eu não consigo, me desculpe.

Ontem falei para uma amiga, recém-amiga, para falar a verdade, não me dar muita corda que eu sou o tipo de pessoa que gosta de incomodar. Propaganda enganosa, não sou, não. Aliás, muito pelo contrário, eu sou o tipo de pessoa que sempre acha que está incomodando, mesmo (e principalmente) quando não está. E tamanha insistência em achar que incomodo acaba deixando meu interlocutor incomodado.

Para conseguir falar comigo é preciso telefonar, mandar e-mail, sinal de fumaça ou mensagem por qualquer outro meio. Se esperar por minha ligação, esperará sentado. Não ligo por dois motivos: primeiro, não quero incomodar. E sempre existe a possibilidade de meu telefonema chegar dentro do único minuto do dia em que a criatura está mergulhada em todos os compromissos possíveis. Como todo mundo sabe que eu, a priori, sou desocupada (até que se prove o contrário, o que geralmente acontece nas segundas, terças e domingos pela manhã), quem quiser realmente falar comigo, entra em contato, sem correr o risco de me encontrar ocupada.

A segunda razão para eu não fazer contato é bem simples: não costumo mesmo fazer contatos. É algo muito estranho, mas eu acabo me perdendo em meus afazeres banais do dia-a-dia e quando vejo já está tarde demais para telefonar para alguém que não seja um morcego. E deixo para o dia seguinte. Assim passam-se dias, noites, semanas, meses, até mesmo anos, e a criatura ficará eternamente com uma péssima e equivocada idéia de que Josephine é antipática, mal-educada, ou coisa pior.

Há, porém, aqueles que entendem esse jeito desligado e o eterno complexo de incomodação e, quando se lembram, me ligam, mandam e-mails, cartas, e ficam felizes quando, algumas semanas depois, eu lhes respondo os e-mails ou cartas, no caso dos telefonemas a coisa é mais instantânea, obrigatoriamente.

O que acontece com os e-mails é que eu leio e não gosto de responder de qualquer jeito, deixo para o dia seguinte, no qual, segundo minha ingênua mente, estarei mais desocupada. Acontece que mesmo sendo uma desocupada funcional, nunca me acho suficientemente desocupada para tal tarefa. E nunca aprendo. E agora, com a pior conexão discada com a qual alguém poderia sonhar, consigo, às vezes, ter tempo disponível, mas sem poder abrir uma mísera página. E viva o adsl e qualquer conexão banda larga! Meu reino por uma conexão que funcione! (1)

Embora eu sinceramente duvide que alguém queira fazer algum contato comigo, afinal de contas, se até eu cansei da minha cara, quanto mais as outras pessoas, que não teriam nenhuma outra razão para aturar a dita-cuja. Eu ainda me tolero, porque me persigo, estou em todos os espelhos nos quais olho. Mas enjoei de mim mesma e não sei exatamente qual seria a maquiagem adequada para me fazer parecer outra pessoa sem, no entanto, deixar de ser eu.

Mas aí esbarro em meu ego. Posso passar um batom forte e apagar os olhos com um lápis claro. Mas gosto mais dos olhos do que dos lábios e uma parte forte de mim arranca o lápis claro de minha mão e agarra, fortemente, o delineador preto, alucinadamente. É um auto-boicote. Não mudo os cabelos, não mudo a maquiagem, nem as roupas, nem a voz, nem o olhar. Mudo então a forma de me enxergar, prestando atenção naqueles detalhes de mim que andavam há muito esquecidos.

Preciso comprar um perfume. Eu, que nunca fui afeita a perfumes, sinto falta de um aroma diferente. Acho que experimentei todas as cores, e os chocolates continuam também com o mesmo gosto. Mas talvez, se eu misturasse as cores, os aromas, os sabores, talvez se eu me olhasse no espelho como se nunca tivesse me visto antes, talvez- e só talvez- conseguisse, novamente, me entusiasmar com o que vejo.

Ou não.


(1) É apenas uma expressão, não tenho reino algum para dar, embora aceite se alguém quiser me arranjar uma conexão que funcione